Friday, April 07, 2006

Este sábado, no telejornal da SIC, passou uma grande reportagem sobre profissões stressantes que facilmente podem conduzir a uma depressão. Até aí tudo bem, toda a gente sabe que a depressão é a doença do século, embora desconfie que a maioria das pessoas não sabe bem o que significa depressão e confundam frequentemente a doença com um estado de espiríto. Mas fiquei entusiasmada com o título da reportagem. O dia a dia do cidadão comum é muito cansativo! Aguardei em frente do televisor até que começou a peça.
O primeiro entrevistado era um executivo que trabalhava numa multinacional, tinha um escritório só seu, geria uma empresa e um número imenso de trabalhadores. Mas o senhor não vivia só para o trabalho e aventurava-se também nos desportos radicais tendo concorrido no último Paris-dakar. O senhor executivo revelava que quase só vivia para o trabalho, mas também confessava que a empresa tinha boas condiçoes como um ginásio ao dispor dos trabalhadores e funcionários competentes. Resumindo, apesar do esforço que a profissão exigia era uma pessoa visivelmente satisfeita com o seu trabalho. Aquietei e fiquei expectante em relação ao segundo entrevistado.
Seguia-se um piloto da TAP muito bem disposto, de sorriso fácil, que reconheceu que só ficava sob stress quando estava em terra, no ar sentia-se muito bem e tinha grande prazer naquilo que fazia. A câmara acompanhou o piloto e co-piloto no ar enquanto aqueles explicavam o essencial sobre a dificíl tarefa de pilotar um avião. Não vi quaisquer sinais de stress, e no meio de um discurso muito técnico não percebi uma palavra. Nesta altura já estava a perguntar aos meus botões: "Estas pessoas sentem-se stressadas, próximas da depressão?"
Próxima entrevistada; uma mulher que havia trocado um posto de chefia numa multinacional de relevo pela pacatez do campo, mas abandonando a cidade, não abandonou o mundo empresarial, sendo responsável por uma empresa de ovos biológicos.A empresária dizia que estava farta da rotina, do espaço fechado do escritório e da cidade, ali ao menos podia respirar ar puro. Durante o fim de semana, para desanuviar, praticava vela. Continuava ambiciosa e sentia-se feliz.
Estes são só alguns exemplos da reportagem feita pela SIC, mas os modelos aproximam-se: pessoas com cargos elevados e poder de decisão pertencentes à classe média alta. Já agora, porque é que ninguém entrevistou o condutor de autocarros que se vê envolvido diariamente no trânsito, no pára arranca constante? Sempre sentados a fazerem o mesmo trajecto várias vezes ao dia ou a empregada fabril que se levanta todos os dias antes do nascer do Sol para ir para a linha de montagem voltando já tarde para casa quando ainda a esperam lides domésticas.
As causas de depressão são imensas, mas, na minha opinião, uma das causas é um profundo sentimento de insatisfação e falta de realização pessoal. Deve-se referir numa grande entrevista aquelas pessoas que sobrevivem para o dia a dia com projectos limitados e sem férias programadas. São milhares de pessoas que vivem nesta situação, às vezes devia-se prestar mais atenção à vida desses anónimos que, no fundo, representam a maioria da população portuguesa.

1 comment:

Anonymous said...

Realmente é verdade, é tudo verdade ou será tudo verdadeiro??????
Pois é pois é pois é, lá lá lá !!

Que se fodam os meios de comunicação!!!
E que se fodam os teóricos!!!!