Wednesday, April 26, 2006

palavras que dançam

Laranja, pão, gente que sonha tristemente com a volúpia desgarrada como sinónimo de liberdade. O que se quer é gente solene, sem medo, com audácia e despreendimento, que sonhe caminhe, grite... Com o objectivo final de ir mais além, de perder-se em metafisícas enganosas ou em ciladas escandalosas.

Friday, April 07, 2006

Este sábado, no telejornal da SIC, passou uma grande reportagem sobre profissões stressantes que facilmente podem conduzir a uma depressão. Até aí tudo bem, toda a gente sabe que a depressão é a doença do século, embora desconfie que a maioria das pessoas não sabe bem o que significa depressão e confundam frequentemente a doença com um estado de espiríto. Mas fiquei entusiasmada com o título da reportagem. O dia a dia do cidadão comum é muito cansativo! Aguardei em frente do televisor até que começou a peça.
O primeiro entrevistado era um executivo que trabalhava numa multinacional, tinha um escritório só seu, geria uma empresa e um número imenso de trabalhadores. Mas o senhor não vivia só para o trabalho e aventurava-se também nos desportos radicais tendo concorrido no último Paris-dakar. O senhor executivo revelava que quase só vivia para o trabalho, mas também confessava que a empresa tinha boas condiçoes como um ginásio ao dispor dos trabalhadores e funcionários competentes. Resumindo, apesar do esforço que a profissão exigia era uma pessoa visivelmente satisfeita com o seu trabalho. Aquietei e fiquei expectante em relação ao segundo entrevistado.
Seguia-se um piloto da TAP muito bem disposto, de sorriso fácil, que reconheceu que só ficava sob stress quando estava em terra, no ar sentia-se muito bem e tinha grande prazer naquilo que fazia. A câmara acompanhou o piloto e co-piloto no ar enquanto aqueles explicavam o essencial sobre a dificíl tarefa de pilotar um avião. Não vi quaisquer sinais de stress, e no meio de um discurso muito técnico não percebi uma palavra. Nesta altura já estava a perguntar aos meus botões: "Estas pessoas sentem-se stressadas, próximas da depressão?"
Próxima entrevistada; uma mulher que havia trocado um posto de chefia numa multinacional de relevo pela pacatez do campo, mas abandonando a cidade, não abandonou o mundo empresarial, sendo responsável por uma empresa de ovos biológicos.A empresária dizia que estava farta da rotina, do espaço fechado do escritório e da cidade, ali ao menos podia respirar ar puro. Durante o fim de semana, para desanuviar, praticava vela. Continuava ambiciosa e sentia-se feliz.
Estes são só alguns exemplos da reportagem feita pela SIC, mas os modelos aproximam-se: pessoas com cargos elevados e poder de decisão pertencentes à classe média alta. Já agora, porque é que ninguém entrevistou o condutor de autocarros que se vê envolvido diariamente no trânsito, no pára arranca constante? Sempre sentados a fazerem o mesmo trajecto várias vezes ao dia ou a empregada fabril que se levanta todos os dias antes do nascer do Sol para ir para a linha de montagem voltando já tarde para casa quando ainda a esperam lides domésticas.
As causas de depressão são imensas, mas, na minha opinião, uma das causas é um profundo sentimento de insatisfação e falta de realização pessoal. Deve-se referir numa grande entrevista aquelas pessoas que sobrevivem para o dia a dia com projectos limitados e sem férias programadas. São milhares de pessoas que vivem nesta situação, às vezes devia-se prestar mais atenção à vida desses anónimos que, no fundo, representam a maioria da população portuguesa.

Thursday, April 06, 2006

Intra Viagens


Apanhei o eléctrico em direcção à Graça numa tarde preguiçosa de domingo. Sentei-me no último banco e reparei que há minha volta só havia turistas bem dispostos muito atentos e curiosos ao que se passava lá fora, absorvidos pela realidade que ia passando lentamente ao ritmo das travagens e paragens do eléctrico.
Notava-se que todos estavam deliciados com o que viam, desenhavam-se grandes sorrisos e ouviam-se comentários ditos a meia voz. As ruas eram estreitas, densamente povoadas de um lado e de outro por pequenas casas velhas, descoloridas e rasteiras. Na calçada viam-se pessoas vagarosas que se arrastavam sem destino ou então velhas senhoras debruçadas sobre o parapeito vendo quem passava.
Saí antes da última paragem, preferia seguir a pé, sentir o vento levezinho de Primavera, os cheiros, os ruídos. Os turistas lá continuaram, sorridentes, de máquina fotográfica em punho. Comecei a subir a calçada reparando nos pequenos cafés pouco iluminados e barulhentos, nas pequenas casas de portas de madeira trabalhada, nas janelas, ainda do tempo em que não se usavam estores, nas pequenas casas museu que mostravam as tradições portuguesas como os bordados, as rendas, as louças. A cada passo que dava sentia-me a rejuvenescer e sorria para mim e para os outros. Aquele ambiente tão aberto e revigorante fez-me esquecer que estava em Lisboa, na grande cidade impessoal.
Continuei a subir até que cheguei ao largo da Graça, era lá que ficava a livraria Pequeno Herói, o antigo botequim de Natália Correia, o objectivo final das minhas deambulações. O espaço é exíguo mas está muito bem conservado, pintado de amarelo suave seduzia imediatamente aqueles que para lá olhavam. Decidi entrar e vi uma pequena sala repleta de estantes cheias e um pequeno balcão que se encontrava vazio. Ao fundo uma rapariga contava histórias de encantar, sentei-me no chão, estava cansada de caminhar, e enquanto ouvia a voz doce da declamadora deixei-me levar pala magia do faz de conta, como se fosse a criança pequena que estava ao meu lado, de olhos grandes e boca aberta, deixando escorregar pelo queixo pingos de saliva.

Wednesday, April 05, 2006

Pim pam pum

Assim assim
sem saber se sim ou não
nem muito feliz nem muito triste
Assim assim
sem decisão ou indecisão
Assim assim
frustrada e desanimada
outras alegre e determinada
Assim assim
pela estrada do futuro
apanhando os solavancos do presente
Assim assim
a discutir, a gritar
a passear, ou simplesmente
a sonhar!
Assim assim
a escrever porque sim!