Wednesday, June 29, 2005

Fugas do mundo

A sensação de fuga é das melhores do mundo. O simples gesto de nos metermos num comboio, num autocarro ou mesmo num avião e desaparecer por uns tempos é uma sensação fantástica, porque deixamos sempre algo para trás e seguimos em frente, à descoberta! Isso é sempre fascinante. E todas as pequenas coisas, todas as pequenas descobertas, todos os pequenos projectos idealizados ganham forma quando perdemos o olhar numa paisagem indiferente, sem quaisquer pressões. Quem é que nunca sonhou acordado quando faz uma viagem longa, vagarosa, contemplativa ao fim da tarde? Nessa altura todos sonhamos ser donos do mundo.
Recentemente convivi com duas estudantes erasmus que vieram para Portugal e estiveram cá durante um ano; aprenderam a língua, assimilaram alguns hábitos culturais e passearam muito. No fim, quando chegou a altura de voltar para a Polónia estavam tristes porque começavam realmente a gostar do país... Uma delas disse-me que queria viver intensamente todos os momentos porque brevemente acabaria o curso, começaria a trabalhar e seria assim durante pelo menos trinta anos até atingir a reforma e estagnar para sempre! Ficámos ambas caladas e nesse momento tenho a sensação que pensámos exactamente o mesmo: o tempo é tão escasso!