Friday, June 09, 2006

Histórias com números

Oito cores diferentes avisto do espaço,
oito mentiras sem nexo
conto à vizinha do lado
oito minutos a mais à espera do meu amor,
oito rugas a mais provocadas pelo desamor.
Oito minutos de deslumbramento,
oito tormentos sem fim até encontrar
o barco perdido do manuel, o sonhador.
Oito celas de prisão fechadas, enclausuradas,
tapadas ao Sol.
Oito bons livros a ler, a reler, a não esquecer,
oito bons mtivos para continuar a viver.

Wednesday, April 26, 2006

palavras que dançam

Laranja, pão, gente que sonha tristemente com a volúpia desgarrada como sinónimo de liberdade. O que se quer é gente solene, sem medo, com audácia e despreendimento, que sonhe caminhe, grite... Com o objectivo final de ir mais além, de perder-se em metafisícas enganosas ou em ciladas escandalosas.

Friday, April 07, 2006

Este sábado, no telejornal da SIC, passou uma grande reportagem sobre profissões stressantes que facilmente podem conduzir a uma depressão. Até aí tudo bem, toda a gente sabe que a depressão é a doença do século, embora desconfie que a maioria das pessoas não sabe bem o que significa depressão e confundam frequentemente a doença com um estado de espiríto. Mas fiquei entusiasmada com o título da reportagem. O dia a dia do cidadão comum é muito cansativo! Aguardei em frente do televisor até que começou a peça.
O primeiro entrevistado era um executivo que trabalhava numa multinacional, tinha um escritório só seu, geria uma empresa e um número imenso de trabalhadores. Mas o senhor não vivia só para o trabalho e aventurava-se também nos desportos radicais tendo concorrido no último Paris-dakar. O senhor executivo revelava que quase só vivia para o trabalho, mas também confessava que a empresa tinha boas condiçoes como um ginásio ao dispor dos trabalhadores e funcionários competentes. Resumindo, apesar do esforço que a profissão exigia era uma pessoa visivelmente satisfeita com o seu trabalho. Aquietei e fiquei expectante em relação ao segundo entrevistado.
Seguia-se um piloto da TAP muito bem disposto, de sorriso fácil, que reconheceu que só ficava sob stress quando estava em terra, no ar sentia-se muito bem e tinha grande prazer naquilo que fazia. A câmara acompanhou o piloto e co-piloto no ar enquanto aqueles explicavam o essencial sobre a dificíl tarefa de pilotar um avião. Não vi quaisquer sinais de stress, e no meio de um discurso muito técnico não percebi uma palavra. Nesta altura já estava a perguntar aos meus botões: "Estas pessoas sentem-se stressadas, próximas da depressão?"
Próxima entrevistada; uma mulher que havia trocado um posto de chefia numa multinacional de relevo pela pacatez do campo, mas abandonando a cidade, não abandonou o mundo empresarial, sendo responsável por uma empresa de ovos biológicos.A empresária dizia que estava farta da rotina, do espaço fechado do escritório e da cidade, ali ao menos podia respirar ar puro. Durante o fim de semana, para desanuviar, praticava vela. Continuava ambiciosa e sentia-se feliz.
Estes são só alguns exemplos da reportagem feita pela SIC, mas os modelos aproximam-se: pessoas com cargos elevados e poder de decisão pertencentes à classe média alta. Já agora, porque é que ninguém entrevistou o condutor de autocarros que se vê envolvido diariamente no trânsito, no pára arranca constante? Sempre sentados a fazerem o mesmo trajecto várias vezes ao dia ou a empregada fabril que se levanta todos os dias antes do nascer do Sol para ir para a linha de montagem voltando já tarde para casa quando ainda a esperam lides domésticas.
As causas de depressão são imensas, mas, na minha opinião, uma das causas é um profundo sentimento de insatisfação e falta de realização pessoal. Deve-se referir numa grande entrevista aquelas pessoas que sobrevivem para o dia a dia com projectos limitados e sem férias programadas. São milhares de pessoas que vivem nesta situação, às vezes devia-se prestar mais atenção à vida desses anónimos que, no fundo, representam a maioria da população portuguesa.

Thursday, April 06, 2006

Intra Viagens


Apanhei o eléctrico em direcção à Graça numa tarde preguiçosa de domingo. Sentei-me no último banco e reparei que há minha volta só havia turistas bem dispostos muito atentos e curiosos ao que se passava lá fora, absorvidos pela realidade que ia passando lentamente ao ritmo das travagens e paragens do eléctrico.
Notava-se que todos estavam deliciados com o que viam, desenhavam-se grandes sorrisos e ouviam-se comentários ditos a meia voz. As ruas eram estreitas, densamente povoadas de um lado e de outro por pequenas casas velhas, descoloridas e rasteiras. Na calçada viam-se pessoas vagarosas que se arrastavam sem destino ou então velhas senhoras debruçadas sobre o parapeito vendo quem passava.
Saí antes da última paragem, preferia seguir a pé, sentir o vento levezinho de Primavera, os cheiros, os ruídos. Os turistas lá continuaram, sorridentes, de máquina fotográfica em punho. Comecei a subir a calçada reparando nos pequenos cafés pouco iluminados e barulhentos, nas pequenas casas de portas de madeira trabalhada, nas janelas, ainda do tempo em que não se usavam estores, nas pequenas casas museu que mostravam as tradições portuguesas como os bordados, as rendas, as louças. A cada passo que dava sentia-me a rejuvenescer e sorria para mim e para os outros. Aquele ambiente tão aberto e revigorante fez-me esquecer que estava em Lisboa, na grande cidade impessoal.
Continuei a subir até que cheguei ao largo da Graça, era lá que ficava a livraria Pequeno Herói, o antigo botequim de Natália Correia, o objectivo final das minhas deambulações. O espaço é exíguo mas está muito bem conservado, pintado de amarelo suave seduzia imediatamente aqueles que para lá olhavam. Decidi entrar e vi uma pequena sala repleta de estantes cheias e um pequeno balcão que se encontrava vazio. Ao fundo uma rapariga contava histórias de encantar, sentei-me no chão, estava cansada de caminhar, e enquanto ouvia a voz doce da declamadora deixei-me levar pala magia do faz de conta, como se fosse a criança pequena que estava ao meu lado, de olhos grandes e boca aberta, deixando escorregar pelo queixo pingos de saliva.

Wednesday, April 05, 2006

Pim pam pum

Assim assim
sem saber se sim ou não
nem muito feliz nem muito triste
Assim assim
sem decisão ou indecisão
Assim assim
frustrada e desanimada
outras alegre e determinada
Assim assim
pela estrada do futuro
apanhando os solavancos do presente
Assim assim
a discutir, a gritar
a passear, ou simplesmente
a sonhar!
Assim assim
a escrever porque sim!

Thursday, March 23, 2006

Wednesday, March 22, 2006

Pedra gélida e brilhante
fria ao tacto
de cicatriz profunda e inconstante
delicada no tracto.
Pequena madrepérola imperfeita
bela para sempre
imortal já feita.

Saturday, March 18, 2006

Um dia no mar alto

Parti para uma aventura só porque sim, gosto de me manter em movimento, gosto de desporto, gosto de explorar o corpo e esquecer a mente. Foi isso que fiz no workshop de canoagem, nunca tinha experimentado antes e fui sem conhecer ninguém. O dia acordou cinzento e muito chuvoso. Saí de casa às 7:45 da manhã e lembro-me de pensar que tinha tido uma má ideia, muito má mesmo. O autocarro chegou e eu entrei, a viagem foi longa e cada vez chovia mais, para além disso não havia ninguém com quem pudesse falar. Quando finalmente chegámos ao portinho da Arrábida milagrosamente o tempo começou a clarear, mas, mesmo assim saímos do autocarro sem muito ânimo, mas isso depressa desapareceu, fomos contagiados pelo bom humor dos orientadores e num ápice estávamos dentro do mar, a tentarmos equilibrar-nos dentro da canoa. Fiquei sempre em último lugar e por muito rápido que eu pensasse que estava a remar acabava sempre por me atrasar. Mas isso não é o mais importante, o que interessa verdadeiramente é que me diverti imenso. Ao fazer desporto a pessoa liberta-se e sente-se instantaneamente mais feliz. Ainda bem que venci a preguiça, o desânimo do mau tempo e embarquei numa aventura fantástica, são estes pequenos momentos que nos fazem feliz e eu felizmente ainda guardo em mim a felicidade dos pequenos momentos.

Wednesday, March 15, 2006

estou farta

Estou farta de intelectuais a fingir
de falsos sorrisos e falsas palavras
de gritar para dentro
de falar sem ser compreendida
de encontrar portas fechadas, olhares trocistas
de palmadinhas nas costas e facas aguçadas
de pessoas hipócritas com ares de superioridade
de papéis, palavras, formalidades
de não ter dinheiro, título ou má educação
de ser desprezada, humilhada, usada
de palavras ocas, matérias desinteressantes
de pessoas mal dispostas porque sim
de pessoas deprimidas sem sentido
de me sentir perdida...

Sunday, February 19, 2006

Escrita criativa

Este fim de semana foi diferente por muitas razões. Os meus pais vieram cá no sábado almoçar comigo, o que é de todo inesperado e sempre bom quando acontece, por outro lado inscrevi-me num curso de escrita criativa que durou o fim-de-semana todo e que eu tive o prazer de frequentar. Aprendi imensa coisa, aprendi de novo a brincar com as palavras, a sentir gosto em inventar histórias e criar personagens. Quem me dera que aquele curso durasse a vida inteira. A verdade é que isso só depende de mim. Posso continuar a exercitar a escrita como fiz nestes dois dias. Essencialmente o que eu aprendi naquele curso é que não existem limites para a criatividade e todos os objectos; uma pedra, uma flor, um postal podem ser objectos literários válidos. Estou cheia de vontade de me inscrever no próximo curso e cheia de vontade de continuar a escrever. Já me tinha esquecido de como sabe bem...

Monday, January 30, 2006

a vontade que não surge

Eu devia estar a estudar, ou pelo menos a tentar estudar em busca de uma inspiração divina que não surge, não aparece, mas em vez disso procuro sempre fazer outras coisas, mesmo que essas sejam inúteis sem qualquer interesse. Também não sei o que hei-de escrever por muita vontade que tenha de expor todo o meu talento literário, eu sei que tenho talento, só que está escondido...
Hoje o Alvaro disse-me que vai anular a matrícula e eu adorava ter essa coragem e esse sangue, já que frequentar aquela faculdade não me oferece prazer nenhum; a única coisa que eu tenho ganho em cinco anos são frustrações e decepções. Se peço ajuda a um professor , ele responde de forma sorridente que o melhor a fazer é abandonar a faculdade. Mas tenho medo, e o medo é inibidor e castrador. Por muito que se sofra temos de pensar primeiro em nós e só depois nos outros; nas expectativas dos nossos pais, dos nossos amigos... Por isso apoio-te Al, tu não estás a desistir de nada, estás apenas a fazer uma pausa.

Sunday, January 29, 2006

Caminhada a Sintra (15.10.2005)

cai neve na cidade

Hoje, dia 29 de Janeiro de 2006, nevou em quase todo o país, até mesmo em Lisboa o que já não acontecia há mais de cinquenta anos. Confesso que fiquei deliciada ao ver a neve a cair... Nunca tinha visto tal coisa por isso sorri com a ingenuidade de uma criança perante os farripos de neve que iam caindo. É verdade que foi muito pouca e mal deu para se notar que o que caía era mesmo neve, mas foi bom ver os portugueses felizes ao telemóvel a falar com a família e os amigos a anunciar a boa nova: "Está a nevar em Lisboa!" Estão a acontecer coisas muito estranhas ultimamente: O Cavaco Silva é presidente da república, o Benfica perde e por fim neva em Lisboa. Vivemos de facto uma época especial e os portugueses adoram épocas especiais...